terça-feira, 16 de junho de 2009

"CARNE SECA" E "DIABO LOIRO".

GENTE FAMOSA DE MANDAGUAÇU
A ousadia da bandidagem que assola o País não está mais na violência ou na banalidade no matar, elementos que já fazem parte da rotina brasileira. O que anda surpreendendo é o número de pessoas que se envolve num mesmo assalto. E a rede de informações que se estabeleceu, onde uma simples diarista que colocamos dentro de casa hoje pode ser o elo de um assalto, ou de um sequestro amanhã. Na semana que passou, o roubo de um caixa eletrônico em São Paulo,
filmado pelas câmeras de segurança, tinha tanta gente envolvida, ora abrindo portas, ora derrubando e carregando no muque aquele monstrengo pesadíssimo, que a própria polícia alegou dificuldades para identificar a turma toda. Não era bem uma turma ou um grupo, mas uma horda tão grande de ladrões que a gente fica pensando como é que vão dividir o butim. Pela afinação demonstrada no ato de roubar, com precisão de centavos. A primeira conclusão é que, se uma horda dessas decidir assaltar uma casa, uma empresa, um edifício ou um condomínio qualquer, não haverá cerca eletrônica, alarme, câmeras de segurança e muito menos força de segurança, oficial ou privada, que venha a impedir. Na melhor das hipóteses, a troca de tiros entre os invasores e a cavalaria deixará a terra arrasada de qualquer jeito. Na pior, e é o que costuma acontecer, a cavalaria chegará tão atrasada que nem rastro do bando vai encontrar.
A segunda conclusão é que esta nova modalidade de crime em grupo, se for uma tendência, vai exigir uma nova modalidade de defesa (um exército, talvez?), para a qual a reação do guarda contratado para vigiar a rua, o posto de gasolina ou a porta do edifício, é risível. Estamos, portanto, à mercê de um perigo ainda sem solução razoável, ou crível, à vista. Outro crime que chamou a atenção na semana foi o do bandido catarinense, com ficha suja no Paraná, que apareceu num vídeo ensinando duas crianças praticamente de colo, um filho e uma sobrinha, como assaltar e matar. O detalhe: o vídeo foi parar nas mãos da polícia durante investigação de um sequestro recente, que só aconteceu porque um cartão pessoal, desses de visita, deixado num quarto de motel, foi recolhido pela camareira, que era mulher do bandido catarinense e eis aí uma vítima em potencial, pronta e acabada. Um gesto tão banal, como deixar cair um cartão, e a porta está aberta para um crime hediondo.

São situações tão absurdas, e dramáticas, que é difícil imaginar a quem pedir socorro. No fundo, no fundo, sabemos que não existe uma fórmula para enfrentar tamanha fragilidade social. E, com 56 anos nas costas, sinto que se repete o mesmo pavor dos cinco, seis anos, quando a avó pendurava panelas na porta da casa de madeira lá de Mandaguaçu para, no caso de um ataque do "Carne Seca" e do "Diabo Loiro", a gente ter tempo de gritar. A dupla espalhava o horror pelo norte do Paraná, mais pelas artes da imaginação popular do que na realidade: o "Carne Seca", que tinha vindo do sertão do Brasil e meio aparentado de Virgulino Ferreira, o Lampião, era tinhoso, um peste de ruindade, e o "Diabo Loiro", do sul, era o mais forte, fazia tudo o que o outro mandava e ainda babava. A gente ia dormir tremendo, sem a mínima confiança nas panelas da avó porque o vizinho mais próximo ficava longe e, mesmo se viesse, só tinha um machado velho para enfrentar a dupla tão perigosa. E o cachorro da casa era um "guaipeca", "chinfrim", que lembrava, muito de longe, um pastor alemão e meu pai dizia que era um "cão policial". O perigo rondava nos anos 50 e continua rondando hoje, com a diferença que é mais sofisticado, mais letal e não faz parte da imaginação popular ou infantil. É real. Em tempo: quase 20 anos depois vim descobrir que o "Carne Seca" cumpriu pena na Penitenciária Central do Estado e por lá deve ter morrido. Do "Diabo Loiro" não se sabe o destino até hoje.

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